“Somos todos uma família”
Solidariedade

18 Dezembro 2021

“Somos todos uma família”

“Somos todos uma família”



O dia começou como todos os outros. Era mais um dia de dezembro, com chuva a ameaçar cair e um vento fresco no ar. As portas da CAID- Cooperativa de Apoio à Integração do Deficiente- abriram às 8h30 como de costume. Os utentes foram chegando, prontos para mais um dia de atividades, mas tiveram uma surpresa: era dia de sessão fotográfica com o BZR- Street Style Culture.


“Já sou eu? Já sou eu?” perguntavam com espectativa à medida que iam sendo chamados por Guida Neves, diretora técnica da Cooperativa. A ansiedade aumentava e a felicidade era visível nas suas caras. O gabinete de psicologia, onde normalmente têm consulta com as psicólogas da instituição, foi transformado num backstage de um desfile de moda, com charriots cheios de outfits catalogados com nome e fotografia de cada um dos 14 participantes. As terapeutas viraram cabeleireiras, maquilhadoras e assistentes de moda que ajudavam a vestir e a preparar cada modelo.


Do outro lado do corredor cheio de cacifos, na porta da frente, a sala de terapia foi rearranjada para poder nascer ali um estúdio fotográfico. Os sofás azuis foram encostados à esquerda, os matraquilhos, as bolas terapêuticas e afins à direita. A janela do chão ao teto iluminava com toda a clareza o fundo esverdeado que foi encostado à parede de madeira e as duas cabeças de luzes de flash. Onde antes estava uma sala simples, podia agora ver-se um local transformado para o dia que estava prestes a ser preenchido com muita personalidade, animação e carinho.



making off



Depois de vestidos com as roupas mais recentes que podes encontrar no nosso site, os novos modelos chegavam em grupos de quatro à sala onde as fotografias iam ser tiradas da parte da manhã. As marcas que vestiam em si eram irrelevantes. O importante é que combinassem com as suas personalidades, tendo cada conjunto sido montados pela stylist do BZR- Street Style Culture, com base nas informações que a diretora Guida Neto disponibilizou.


“Estas iniciativas fazem toda a diferença no dia-a-dia deles”, começou por dizer Guida Neto. Com um entusiasmo evidente na voz, a diretora explicou que a atividade pode parecer simples para quem vê de fora, mas para os utentes é sinónimo de experiência, estímulo e orgulho que podem levar para casa ao fim do dia. “As pessoas normais fazem isso com os estudos e as boas notas, mas para eles é isto. É por isso que é tão importante proporcionar estes momentos”, confessou.


Foi precisamente essa a ideia com que o Ricardo se juntou às fotografias. “Os meus pais vão chorar por estar tão bonito”, dizia ele a quem quisesse ouvir. Respirou fundo, preparou-se e dirigiu-se ao cenário, decidido a dar o seu melhor. E deu, em conjunto com os seus amigos, Mafalda, Elisabete e Hélder, o segundo grupo do dia. Nomes soltos, mas cheios de história.



Elizabete, Mafalda, Bruno, Hélder



“Somos todos uma família”, dizia Guida Neto, sendo que neste caso a expressão pode ser levada à letra quando se fala da Mafalda. Filha da Diretora, a Mafalda é uma das poucas portuguesas com o Síndrome de Cohen, uma anomalia genética rara. “Posso escolher eu a música?”, perguntava ela entusiasmada. Ao início ainda indecisa, acabou por escolher ‘Nesta Noite Branca’, dos Anjos e da Susana. Foi com um ambiente natalício no ar, e o Ricardo a cantarolar, que a Elisabete entrou em cena como uma verdadeira profissional. Já estava habituada a tirar fotografias com tantas luzes, dizia ela. Uma verdadeira simpatia que encostava a cara ao ombro do Hélder, em jeito de timidez, cada vez que se metiam com ela.


Habituada a luzes ou não, não sabemos, mas a verdade é que a Elisabete é a que aparece nas fotografias mais antigas da CAID, que estão espalhadas pelo longo corredor e que traçam a história da cooperativa. Tudo começou em 1992, quando os primeiros esforços foram feitos. Só seis anos mais tarde é que a instituição iria oficialmente abrir portas, graças ao esforço da autarquia de Santo Tirso e de outras Entidades e empresários do concelho, como a Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso, a Sol-do-Ave e a ACIST. Com mais de 60 utentes, neste momento, a CAID promove a inclusão social, profissional e ocupacional de pessoas com incapacidades.



Edgar, Alícia, Bruno, Paula



Voltando à sessão, chegou a hora de fotografar a Paula, o Edgar, a Alícia e o Bruno. É engraçado que este tenha sido o primeiro grupo a entrar porque a Paula é a primeira cara que vais encontrar se fores até à CAID. Tal como outros exemplos, ela faz parte dos utentes que atualmente também são funcionários da cooperativa. Esta é uma das formas que a CAID ajuda a integrar pessoas com deficiência na sociedade, dando-lhes funções e o seu respetivo salário. Já por isso, é distinguida como entidade empregadora inclusiva há 6 anos consecutivos.


Ao mesmo tempo, na entrada da instituição também vais encontrar as obras de arte criadas pelo Edgar, que é especialista em barro. Aquando da nossa visita, ele trabalhava numa nova estatueta, desta vez um Leonardo DiCaprio chateado. Por sua vez, a Alícia foi uma verdadeira princesa durante toda a sessão, que não recusava um sorriso quando pedido, e que manteve a sua pose, segurando a bolsa como uma verdadeira influencer. Já o Bruno chegou e surpreendeu todos, com as suas poses e o seu à vontade.


“Eles conseguem mesmo encarnar um modelo. Uma ação tão normal para a pessoa comum, mas não para eles”, disse Guida Neto, reforçando que não somos todos iguais. Muito pelo contrário. “A igualdade normalmente é vista como a ideia de que somos todos iguais. Isso não é verdade. A igualdade é a individualidade de cada um”, reiterava. E foi precisamente assim que nasceu a ideia para esta sessão fotográfica. O objetivo? Fazê-los sair da rotina, aumentar o seu ego, a sua autoestima e mostrar que é na diferença que está a beleza. É mais sobre o processo do que o resultado final.



Pedro, Ricardo, Fátima, Bibi



Para esta atividade, a direção do CAID escolheu os participantes de forma a mostrar a diversidade dos utentes que a cooperativa ajuda. Foi precisamente pela diferença que o terceiro grupo, composto pela Fátima, pelo Pedro, pelo Ricardo e pela Bibi, foi marcado. Não a nível físico ou mental, mas a nível de talento e personalidade. O Pedro, jogador da seleção nacional de ténis de mesa, era tímido. A Fátima, considerada a crítica de moda da instituição, um sorriso fácil. Não conseguiu não sorrir durante todo o tempo que esteve na sala. Na verdade, foi até difícil quando lhe pediram para não sorrir por dois segundos para uma fotografia. Por sua vez, o Ricardo, o segundo do dia, era um verdadeiro bailarino, que sentiu cada nota musical de Billie Jean, do Michael Jackson. A Bibi, que ao contrário de todos não se consegue comunicar verbalmente, foi capaz de mostrar entusiasmo à sua própria maneira. 


A parte da manhã terminou com a dupla Luís e Martinha. Um muito alto e cheio de energia, outra mais baixinha e tímida. A combinação perfeita, há quem diga. “Eles estão todos a ir embora contentes”, afirmou Fernando Vale, membro da Direção da CAID.



Luís e Martinha



“As pessoas pensam que trabalhar com a deficiência é tão pesado, mas não é. Eles são muito animados e ajudam a tornar tudo mais leve”, rematava Guida Neto, enquanto que apresentava as instalações à equipa do BZR- Street Style Culture. Com salas para várias atividades, como informática, trabalhos manuais, reabilitação, bem-estar e a zona Snoozelen, onde há ferramentas próprias para estimulação e relaxamento, o edifício é pensado para que todos se sintam bem.


O dia terminou com uma fotografia de grupo, cheia de alegria, que não foi contagiada em nada pela tempestade que estava lá fora. Um dia diferente, que merece ser lembrado, em especial nesta época do ano, onde o dia da solidariedade, dos direitos humanos e das pessoas com deficiência são celebrados. Em baixo, podes ver um vídeo de making-off deste dia.







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